RIO - Pré-candidato à prefeitura com o apoio do prefeito Eduardo Paes, o deputado federal Pedro Paulo Carvalho (PMDB) aparece em um vídeo que circula em redes sociais no qual promete reprimir e proibir o serviço do Uber no Rio, caso seja eleito. As declarações ocorreram durante uma festa na qual estavam taxistas e pelo menos um deputado estadual ligado à categoria.
— Essa é para você espalhar para os amigos taxistas. Eu (eleito), prefeito do Rio, vou ser contra o Uber. O Uber não vai funcionar na cidade do Rio de Janeiro. Eu e o prefeito Eduardo Paes já entramos com uma ação para derrubar a liminar. Como prefeito, vou lutar pelo taxista porque esse é o principal transporte legalizado na cidade. São uns 50 mil taxistas que a gente não pode deixar na mão. Pode espalhar isso aqui para quem você quiser — disse Pedro Paulo, que, no vídeo, ainda diz “Fora, Uber”.
CANDIDATO NÃO QUIS FALAR
Procurado pelo GLOBO , o deputado Pedro Paulo não quis comentar o teor do vídeo. O Uber também preferiu não se manifestar. Para o sociólogo e cientista político Gláucio Soares, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp/Uerj), as declarações revelam uma estratégia política bem pensada, que mira uma faixa de eleitores, sem levar em conta o interesse de toda a sociedade:
— Estamos falando de um potencial de até 250 mil votos, levando-se em conta as famílias dos taxistas. Ao mirar uma parte do eleitorado, o candidato deixa de discutir outras coisas importantes, como o direito de liberdade de escolha do usuário. O objetivo é agradar a uma categoria poderosa que usa inclusive as autonomias que recebeu do poder público como moeda de troca, comercializando licenças de forma irregular — disse Gláucio.
O Uber mantém veículos credenciados em circulação no Rio porque obteve uma decisão judicial contra o Departamento Estadual de Transportes Rodoviários (Detro) e a Secretaria municipal de Transportes, que impede os órgãos de apreender veículos da empresa. No dia 5 de abril deste ano, a juíza Mônica Ribeiro Teixeira, da 6ª Vara de Fazenda Pública, julgou o processo, mantendo a liminar e fixando multa de R$ 50 mil por carro apreendido. No início do mês, a prefeitura recorreu da decisão.
PRESIDENTE DE SINDICATO DIZ QUE CATEGORIA APOIA POLÍTICO
O presidente do Sindicato dos Taxistas do Rio, Luiz Antônio Barbosa, disse que oficialmente a entidade não apoia qualquer candidatura. Ele, no entanto, defendeu o nome de Pedro Paulo para a prefeitura:
— O Pedro Paulo é da linhagem do Eduardo Paes. Muitos colegas o apoiam por acreditar que ele realmente é contra o Uber e não vai legalizá-lo — justificou Luiz Antônio.
AGRESSÕES SÃO ROTINA
As declarações foram feitas ontem pelo dirigente depois que ele esteve com o presidente da Câmara dos Vereadores, Jorge Felippe (PMDB), que também apoia os taxistas. Segundo o presidente do sindicato, o encontro foi para traçar uma estratégia conjunta para reprimir aplicativos não regulamentados que fazem transporte de passageiros:
— A avaliação é que já existe uma legislação que trata da profissão de taxistas. E acreditamos que vamos conseguir vencer na Justiça com apoio da prefeitura.
A polêmica em torno do Uber acontece em várias cidades do país. No Rio, vários incidentes já foram registrados entre taxistas e motoristas do aplicativo e seus passageiros, que foram alvo de agressões. No dia 1º de abril deste ano, o Rio teve 125 quilômetros de engarrafamentos durante protesto de taxistas contra o Uber. Os taxistas fecharam cruzamentos, forçaram colegas na rua a aderir ao movimento e chegaram a hostilizar ocupantes de veículos que eles acreditavam estar credenciados pelo aplicativo. Uma outra manifestação semelhante já havia ocorrido em novembro do ano passado.
O líder dos protestos foi André de Oliveira, o André do Táxi, que na época dos atos não tinha autonomia e trabalhava como motorista-auxiliar. André chegou a concorrer a deputado federal apoiado pelo ex-secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio, hoje pré-candidato a prefeito pelo PSDB.
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