Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Letra de Médico Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Orientações médicas e textos de saúde assinados por profissionais de primeira linha do Brasil
Continua após publicidade

Quais são as consequências psiquiátricas dos maus-tratos na infância

Após presenciar maus-tratos em crianças em sua passagem pelo Congo, Austrália e Nova Zelândia, e na sua participação voluntária na I Guerra Mundial, o escultor britânico Herbert Ward (1863-1919) profetizou: “O abuso de criança esculpe uma sombra que dura uma vida”. Quase um século depois de sua morte, de fato, a ciência demonstrou, especialmente nas […]

Por José Alexandre Crippa
Atualizado em 30 jul 2020, 21h11 - Publicado em 2 dez 2016, 13h16

Após presenciar maus-tratos em crianças em sua passagem pelo Congo, Austrália e Nova Zelândia, e na sua participação voluntária na I Guerra Mundial, o escultor britânico Herbert Ward (1863-1919) profetizou: “O abuso de criança esculpe uma sombra que dura uma vida”. Quase um século depois de sua morte, de fato, a ciência demonstrou, especialmente nas duas últimas décadas, que o abuso e a negligência infantil estão associadas a maior risco de problemas psiquiátricos ao longo da vida.
Atualmente, sabemos que pessoas que foram expostas a traumas nas fases precoces da vida apresentam maior risco de desenvolverem depressão, transtorno bipolar, abuso de álcool e de drogas, transtorno de stress pós-traumático, transtornos de personalidade, transtornos alimentares, tentativas de suicídio, entre muitas outras desordens psiquiátricas. O curso desses quadros psiquiátricos tende a ser mais grave e com pior resposta aos tratamentos disponíveis. Do mesmo modo, crianças com história de abuso são mais vulneráveis ao desenvolvimento de diabetes, asma, doenças cardiovasculares (incluindo hipertensão arterial), cefaleias, obesidade e outras condições médicas gerais.

É assustador, mas dados de um amplo estudo realizado nos Estados Unidos em 2012 (U.S. Department of Health and Human Services) demonstraram que a maior parte (até 80%) dos maus-tratos foi realizada por um dos pais. Das crianças, 78% sofreram negligência (falha em fornecer necessidades básicas que possam levar a criança a sua segurança ou bem-estar); 18%, abuso físico; e 9%, abuso sexual.

Além das óbvias consequências psicológicas, o trauma precoce parece acarretar diversas alterações biológicas, como anormalidades neuroendócrinas e dos neurotransmissores, além de aumentar a predisposição genética para distúrbios mentais e induzir disfunções inflamatórias.

Entretanto, um dos mais impressionantes achados científicos relacionados aos maus-tratos na infância é o seu impacto na estrutura e funcionamento cerebral. Estudos com ressonância magnética demonstraram que crianças que cresceram na completa negligência que ocorria nos orfanatos da Romênia comunista, durante o regime do ditador Ceauşescu (1918-1989), apresentaram menores volumes cerebrais do que crianças não institucionalizadas. Além disso, vários outros estudos com pessoas que passaram por traumas na infância demonstraram alterações persistentes em áreas cerebrais relacionadas ao humor e às emoções.

Continua após a publicidade

Aparentemente os diferentes tipos de trauma (sexuais, por exemplo), além do número e cronicidade dos eventos revelaram ter um impacto cada vez maior sobre a gravidade do dano no cérebro dessas crianças quando cresceram. Assim, retornando a Herbert Ward, podemos afirmar que uma política voltada para a prevenção e tratamento dos maus-tratos na infância é uma questão urgente de saúde pública, que pode acabar com a “escuridão” vivenciada por essas crianças – trazendo de volta a luz do presente e do futuro.

jose-alexandre-crippa

Quem faz Letra de Médico

Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Enis Donizetti Silva, anestesiologista
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Paulo Hoff, oncologista
Paulo Zogaib, fisiologista
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil – cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista
Sergio Simon, oncologista

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.