Carta aberta a Marcela Temer. Assunto: seu choro. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 27 de julho de 2016 às 11:41
Mulher do homem mais detestado do Brasil Foto: Marcelo Naddeo (TPM)
Mulher do homem mais detestado do Brasil
Foto: Marcelo Naddeo (TPM)

Cara Marcela:

Bem-vinda ao mundo como ele é. Soube que você chorou quando ouviu as pessoas protestarem contra seu marido em frente à sua casa em São Paulo.

Li que você temeu que a casa fosse invadida.

Não foi. Mas isso em certas circunstâncias pode acontecer. Quando o povo está muito revoltado com as trapaças dos ricos para manterem seus privilégios, por exemplo.

Na França da Revolução, a multidão invadiu o Palácio de Versalhes, e cabeças de soldados da Guarda Real foram mostradas a Maria Antonieta espetadas em paus.

Não que isso possa acontecer com você. Como escreveu Rubem Braga, os brasileiros jamais fariam uma revolução como a que os franceses fizeram para se livrar de sua plutocracia.

Soube que, apavorada, você ligou para seu marido, Mi. Talvez por isso ele tenha dito, no dia seguinte, que não é nenhum coitadinho, e que sabe mandar.

Você pode dizer se ele sabe mesmo mandar. O que nós podemos dizer, e lamento se isso não vai ser agradável a seus ouvidos, é que seu marido hoje é o homem mais detestado do Brasil.

Talvez você não soubesse dito. Vive num universo protegido, em que as coisas chegam filtradas a você.

Mas Mi, repito, é abominado.

Ele tem todos atributos de um canalha. Traidor. Conspirador. Usurpador. Oportunista. Falso. Mentiroso. Cínico. Hipócrita. Golpista.

Você, até há bem pouco tempo, não sabia quanto ele era detestado. E é então que me ocorre uma frase de Sêneca, o grande filósofo estoico romano. “Cuidado com o que deseja, porque o que você deseja pode se tornar realidade.”

Você certamente ambicionou, no processo de impeachment, que Mi chegasse ao Planalto, nem que fosse, como foi, pela porta dos fundos.

Imagino a festa que você fez quando o impeachment foi aprovado. E no entanto, tão poucos dias depois, sua alegria se transformou em lágrimas e dor.

Bela, recatada e do lar, escreveu a Veja. Falta agora acrescentar, diante dos gritos nacionais contra Mi: e triste.

Dificilmente você conseguirá ir a lugares, daqui por diante, sem ser chamada de golpista.

Não é culpa sua, exatamente. É de Mi. Provavelmente você vai sentir em algum momento saudade dos tempos em que era simplesmente a mulher de um vice decorativo.

Não chego a ter pena de você, embora talvez devesse. Edmund Burke, um dos grandes liberais da história do pensamento político, jamais perdoou a Revolução Francesa pelo que foi feito a Maria Antonieta. Burke sentiu imensa pena pela sorte dela.

Meu estoque de piedade está concentrado nos miseráveis, nos excluídos – em todos aqueles que representam o oposto de seu Mi.

Mas torço por você. Torço para que seu suplício como mulher do homem mais odiado do Brasil seja breve.

Para tanto, bastará que ele seja enxotado do cargo ao qual chegou por um complô de homens corruptos interessados apenas em manter suas mamatas e sua eterna impunidade.

Saudações democráticas do Paulo Nogueira.