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Ex-Sonic Youth, Lee Ranaldo volta ao Rio com show acústico em que antecipa novo disco

Antes da turnê, americano trabalhou como produtor musical de um filme brasileiro
O cantor e compositor americano Lee Ranaldo Foto: Divulgação/A.F.Cortés
O cantor e compositor americano Lee Ranaldo Foto: Divulgação/A.F.Cortés

RIO — A turnê que o cantor e compositor Lee Ranaldo leva ao Teatro Odisseia, nesta segunda-feira à noite, sequer existia há três semanas. Prestes a lançar, no dia 15 de setembro, "Electric trim", seu 12º álbum solo — e o quarto desde o fim do Sonic Youth, influente banda novaiorquina de rock experimental que montou, em 1981, ao lado do ex-casal Thurston Moore e Kim Gordon —, o americano de 61 anos abraçou uma missão diferente: passou a semana em Brasília produzindo a trilha original do longa-metragem “Ainda temos a imensidão da noite”, do cineasta candango Gustavo Galvão, servindo ainda como consultor da banda Animal Interior, montada por músicos-atores especialmente para o filme, que tem estreia prevista para 2019. E resolveu, por que não?, aproveitar a ocasião para dar uma volta com seu violão e seus pedais por Ribeirão Preto, Curitiba, Rio, Belo Horizonte e São Paulo.

O show em formato acústico tinha sido apresentado por Ranaldo em setembro passado, em uma turnê bem-sucedida que lotou, no Rio, o Teatro Ipanema. Naquela ocasião, ele já adiantara uma ou outra faixa de "Electric trim", mas, agora, promete antecipar todas (“ou quase todas”) as nove faixas do novo trabalho.

— Há muito a se falar sobre o disco. Ele teve um processo de gravação muito experimental, basicamente centrado em mim e no Refree ( apelido de Raül Fernández, um dos produtores mais conceituados da Espanha ). Ele ia para Nova York, depois eu ia para Barcelona. Nós exploramos técnicas novas, experimentando beats eletrônicos e samples durante sessões de gravação ao vivo. E conta com participações especialíssimas, como Sharon Van Etten e Nels Cline ( virtuoso guitarrista do Wilco ), além do premiado escritor Jonathan Lethem, que me ajudou em seis das letras — comemora Ranaldo, que negocia para voltar, em dezembro, com a sua banda The Dust, que tem, em sua formação, Steve Shelley, baterista do Sonic Youth entre 1985 e 2011.

Um dos filhos mais pródigos da cena novaiorquina da década de 1980, o Sonic Youth é um dos precursores do movimento do noise rock, que foca mais na experimentação livre e no espírito punk do que na clareza do som. Nos 30 anos em que esteve na banda, Ranaldo teve, muitas vezes, sua importância subestimada diante da genialidade explosiva de Kim e Moore, apesar das texturas de sua guitarra servirem como equilíbrio para as notas hipnóticas expelidas pelo ex-casal.

Na autobiografia “A garota da banda”, lançada em 2015, Kim abre sua história com o fim: o show no festival SWU, em Paulínia, o último da banda, quando a baixista e vocalista já descobrira a traição de Moore, com quem foi casada por 27 anos.

— Eu lembro que nos falaram que o show seria em São Paulo, mas, na prática, era num local a duas horas de carro da cidade. Era um festival, e tinha tudo aquilo que implica quando você toca num festival: bandas com sons diferentes, públicos distintos, chuva… Nós subimos nos palco e fizemos nosso trabalho, mas a gente sabia que, depois daquele dia, não tocaríamos mais juntos como banda — recorda o músico, que não se incomoda com as frequentes perguntas sobre seu ex-grupo (mas raramente toca músicas do Sonic Youth em seus shows solo). — É natural. Conquistamos um público muito apaixonado, maior do que eu imaginava, então é claro que todo mundo quer saber como era, se um dia voltaremos a tocar juntos...

Em seu livro, Kim ainda descreve uma Nova York no auge de seu boom criativo na década de 1980, fruto de um ambiente mais underground que atraiu jovens artistas dos mais variados campos, diferente do cosmopolitismo que impera na cidade nas últimas duas décadas. Único fundador do Sonic Youth que segue com suas raízes fincadas por lá, Ranaldo não acha que a globalização tenha afetado o ambiente criativo da cidade:

— Não acredito que tenha causado um impacto negativo. A principal marca de Nova York é sua capacidade de se reinventar de acordo com cada momento, cada aspecto que a cidade passa. E o mesmo acontece com a produção artística, que dialoga diretamente com esses movimentos. Claro que a cidade era diferente quando o Sonic Youth nasceu ou quando Moby tocava nas raves, mas ainda é um local profundamente inspirador.

Serviço:

Lee Ranaldo

Onde: Teatro Odisseia - Avenida Mem de Sá, 66 , Centro (2226-9691); Quando: Nesta segunda-feira, às 20h; Quanto: R$ 80 (com 1 kg. de alimento); Classificação: 18 anos.