A crescente presença de pessoas morando nas ruas da cidade de São Paulo vem gerando inúmeras matérias nos meios de comunicação, iniciativas do poder municipal para enfrentamento do problema e, certamente, levanta uma série de perguntas sobre o tema. Quantos são? Que razões os levam às ruas? O que fazer? As respostas a essas questões não são triviais, mas já dispomos de informações* para uma primeira avaliação do problema.
Em 2015 foram recenseadas 15.905 pessoas identificadas como moradores de rua na cidade de São Paulo. Com uma taxa média anual de crescimento de 4, 1% a.a. entre 2000 e 2015 e mantidas as condições desse período, a população estaria hoje, próxima a 17.000 pessoas.
O que fazer?
Uma primeira aproximação do problema coloca a importante constatação de que o grupo de “moradores de rua” não é homogêneo, embora partilhem de dificuldades e características comuns. Há diferenças fundamentais nas condições de saúde, escolaridade, experiência profissional anterior à chegada às ruas, entre muitas outras.
A idade média e mediana da população está em torno de 41 anos. Entretanto o primeiro quartil dessa distribuição mostra que 25% têm até 33 anos e no terceiro quartil, 25% têm mais de 50 anos. A idade máxima era, em 2015, 80 anos.
O uso de drogas e álcool é alto, embora haja também diferenças importantes. Assim, 16% dos moradores de rua declararam não fazer uso de drogas ou álcool, 31% afirmaram fazer uso somente de álcool, 14% unicamente drogas e 39% mencionaram uso conjunto de drogas e álcool. Quanto às condições de saúde, os problemas de saúde bucal foram os mais citados, seguidos de “depressão e doença dos nervos”, sequelas de acidentes e dores crônicas.
Além das características pessoais e das condições anteriores à chegada nas ruas, a população se diferencia fortemente pelo tempo em que nelas estão. O “tempo de rua” resulta em um processo de transformação das aptidões e condições de sociabilidade das pessoas que impacta diretamente nas possibilidades de reinserção nos espaços institucionais. Assim, a possibilidade de retomada da rotina de trabalho e a expertise para exercê-lo vão sendo degradadas à medida que o tempo passa. Condições de saúde se agravam, a dependência do álcool e das drogas se acentua e são desenvolvidas formas de relacionamento específicas da vida nas ruas.
Frente a esse quadro de condições, as políticas públicas devem ser diversificadas. A probabilidade de êxito de programas de reinserção ao trabalho se diferencia em relação ao tempo de rua, à idade e às condições de dependência química. Não há um programa único que possa beneficiar toda a população. Os jovens recém-chegados à ruas, de forma geral, constituem um grupo para o qual treinamento e oportunidade de emprego terão mais chances de tirá-los das ruas. Os mais velhos e com mais tempo de rua necessitam programas específicos e formas diferenciadas de reinserção. As chances, infelizmente, podem ser menores.
*Fonte: Censo e Levantamento do Perfil Socioeconômico da População em Situação de Rua da Cidade de São Paulo, FIPE/SMADS, 2015.
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Silvia Maria Schor
Professora do Departamento de Economia da FEAUSP
Departamento:
- FEA