De longe, a figura de calça xadrez preta, branca e dourada, sapato azul e branco, paletó brilhante e panos coloridos poderia ser incluído na nova modinha dos palhaços assustadores. Mas ele comanda uma moda um pouco mais séria e muito mais antiga.
Steven Tyler celebrou as mais de quatro décadas de Aerosmith na noite deste sábado (15) em São Paulo. A produção informou que quase todos os 45 mil ingressos disponibilizados foram vendidos, mas não confirmou o número total de fãs no Allianz Parque. O show começou pouco depois das 21h e durou uma hora e cinquenta minutos.
A carreira de altos e baixos tem material mais do que suficiente para satisfazer aos fãs mais exigentes de 1973 para cá - sem nenhum apego ao material mais recente, o disco “Music from another dimension” (2012). Fãs na grade pediram “Hole in my soul”, mas só houve tempo para um pedacinho do refrão à capella.
Steven Tyler, um senhor de 68 anos, mas com gritinhos de uma moça de 18, já começa o show na passarela à frente do palco, ostentando os agudos em “Draw the line”, faixa-título do álbum de 1977. A voz é mais rouca que antes, mas alcança todas as notas que precisa.
Ele se joga no chão no meio de “Love in an elevator” e, depois, assobia para o parceiro Joe Perry, 66, chegar na frente da passarela e encerrar a música de rosto colado.
O guitarrista parecia ter se esquecido do número ensaiado. Já Tyler segue os truques de frontman à risca - às vezes parece demais no automático do “joga a mãozinha pro alto”, mas não menos eficiente.
“Cryin” é outra em que a voz ainda se mostra em cima, mas nem precisava - todo mundo leva do início ao fim, a mais cantada da noite junto com “I don't want to miss a thing”. Mas o Aerosmith bem é mais que hits de rádio e a voz de Steven Tyler.
O rock deles é eficiente até quando segue por refrões menos conhecidos, como prova “Stop messin' around”, cover do Fleetwood Mac, blueseira com Joe Perry no comando. A catarse em “Dream on”, a mais antiga e melhor do repertório, mostra que havia ali muito mais do que vontade de ouvir um sucesso ou outro.
Essa é a sexta vez do Aerosmith no Brasil - eles tocaram em Porto Alegre e ainda vão a Recife. Mas os fãs continuam vibrando como se fosse a primeira vez. Houve até um papo de Steven Tyler de que pode ser a última vez, mas a escalação no Rock in Rio 2017 tira qualquer clima de despedida.
Para uma banda de trajetória instável, com baixas em popularidade e na saúde dos integrantes por conta de drogas e bebidas em quatro décadas, é um feito que seja hoje opção tão segura de grande show de arena. Não deve ser diferente em 2017. Vai ser só arrumar outra comparação com a modinha da vez, que também vai passar, enquanto o Aerosmith fica.