Economia

CNI: fatia de produtos da indústria brasileira no mundo deve subir de 1,7% para 2,2% até 2022

Estudo aponta que taxa de investimento do país deve passar dos atuais 18,1% para 24% nesse período

BRASÍLIA — A indústria brasileira alcançará um elevado grau de competitividade internacional até 2022, com melhor produtividade e visibilidade, segundo o Mapa Estratégico da Indústria divulgado nesta terça-feira. A estimativa é de que a participação mundial de produtos industrializados brasileiros passe de 1,7% para 2,2% e que a produtividade média do setor, que vem crescendo a uma taxa anual de 2,3% nos últimos 20 anos, passe a dar saltos de 4,5% ao ano.

O presidente da CNI, Robson Andrade, disse que o esforço da indústria é para aumentar sua participação no PIB brasileiro. Ele firmou que, hoje, a indústria de transformação tem participação abaixo de 14% no PIB. No passado, observou, esse índice foi de até 26%.

— Certamente, este mapa pode nos levar a recuperar o espaço que perdemos, não tomando espaço de outros setores, mas fazendo com que o PIB brasileiro possa crescer mais, tenha mais investimentos — disse.

As projeções, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostram ainda que a taxa de investimento (formação bruta de capital fixo sobre o PIB) deve passar dos atuais 18,1% para 24% até 2022, quando o Brasil completará 200 anos de independência. Os investimentos em infraestrutura, por sua vez, deverão saltar de 2,05% do PIB para 5% no mesmo período.

Andrade disse que a indústria tem sofrido sérias dificuldades nos últimos anos e que, hoje, um dos grandes desafios é aumentar os investimentos em infraestrutura no país. A seu ver, para que a taxa de investimento chegue a 24% do PIB, o Brasil precisa apresentar um crescimento dos investimentos “em torno de 7% ou 8% durante alguns anos”.

— É uma meta arrojada, mas necessária. E, para chegarmos a essa meta de investimentos de 24%, precisamos destravar o ambiente de negócios no Brasil, que tem problema de burocracia, tributário, mão de obra, educação — ressaltou.

A secretária de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Heloísa Menezes, considerou que o mapa estratégico é “uma agenda convergente com a do governo federal na atualidade”.

— O conjunto de ações, iniciativas e estratégias tem um grau de convergência grande com diretrizes e estratégias da política industrial, política tecnológica de inovação, com as ações de educação que o governo vem realizando e apoiando e também com a política de desenvolvimento científico e toda a estratégia de melhoria da logística do Brasil — afirmou.

Segundo o cenário traçado pela CNI, para alcançar esses patamares de investimento, o país precisará de um ambiente mais adequado à competitividade. O documento dividiu em dez os fatores-chave que podem aumentar a produtividade e a competitividade da indústria. O diretor de políticas e estratégia da CNI, José Augusto Coelho Fernandes, explicou que o foco do mapa é competitividade com sustentabilidade, com o uso mínimo possível de recursos naturais.

— A luta pela produtividade é resultante de conhecimentos já disponíveis. Obviamente, em algumas áreas, isso passa também por investimentos mais fortes de inovação na agricultura, associados a investimentos em ciência e tecnologia — afirmou o diretor.

Ele destacou que a educação é o fator-chave que dá a base para todo o mapa. A indústria precisa de equipes educadas e bem formadas que saibam utilizar melhor os equipamentos, criar soluções para os problemas do dia a dia, adaptar processos e produtos e desenvolver e implementar inovações. A meta do setor é que, até 2022, o Brasil passe da 54ª posição do ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa/OCDE) para a 43ª — o ranking considera 65 países. Para tanto, a nota média deverá passar de 401, em 2009, para 480, em 2021.

— É a educação que vai permitir mais produtividade, tanto dos trabalhadores que vão usar máquinas e formas mais eficientes quanto das empresas — disse Fernandes, que observou que o país precisa de fundamentos macroeconômicos sólidos que reduzam as incertezas sobre o futuro e gerem confiança para o investidor.

Outras dimensões do estudo são a eficiência do estado – pela previsão da indústria, o Brasil deve aumentar a participação do investimento na despesa primária total do governo federal de 5,8% em 2012 para 8% em 2022 — e a segurança jurídica e burocracia. O diretor disse que, quando comparado a outros países, o Brasil se destaca, com um Supremo Tribunal Federal “razoavelmente independente”.

— Apesar da percepção dessa arquitetura mais global, quando você entra por dentro, você tem programas que afetam percepções — disse, referindo-se à complexidade dos marcos legais do país.

A CNI destacou ainda que o objetivo da indústria é que, de 2012 a 2022, o Brasil passe do 72º lugar para o 40º lugar no ranking de relações empregado-empregador do Fórum Econômico Mundial. A nota média brasileira deve passar de 4,26 para 4,70 no período. A nota dos Estados Unidos hoje é 4,66. A mais alta é a da Suíça, 6,07.

O crescimento da indústria também vai depender da disponibilidade de recursos para investimentos e da capacidade do sistema financeiro de intermediá-los a baixo custo e de forma ampla. Pelo documento, o Brasil deverá aumentar a participação de recursos de terceiros no financiamento do investimento das empresas industriais dos atuais 34% para 50% em 2022. O índice de tributos com caráter cumulativo, pro sua vez, passaria de 7,7% do total de tributos em 2011 para 0% em 2012.