Centrais sindicais e trabalhadores de todo o Brasil estão se organizando para a uma greve geral no dia 28 de abril. O motivo é o descontentamento com a Reforma da Previdência, Reforma Trabalhista e nova Lei de Terceirização. Hoje, paralisações e manifestações na rua já são comuns, mas, em 1917, quando ocorreu a primeira greve geral da história do país, o contexto era outro. Com o fim da escravidão, a mão de obra trabalhadora passou a ser composta por imigrantes assalariados, que vinham para o Brasil em busca de melhores condições de vida ou fugindo de perseguições. Entre eles, muitos já estavam inspirados por ideais liberalistas, socialistas, comunistas e anarquistas, em ascensão na Europa desde a Revolução Francesa, em 1789.
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Quando essas pessoas chegaram ao Brasil, se depararam com fábricas insalubres, ausência de leis trabalhistas, jornada de trabalho de 11 a 16 horas diárias, falta de descanso remunerado e menor salário para mulheres e crianças, que eram a maior parte dos trabalhadores. Para piorar, o alto lucro conquistado pela burguesia industrial não era revertido para o proletariado e a crise do comércio exterior causada pela Primeira Guerra Mundial fazia os preços dos alimentos aumentarem e a miséria se espalhar. Foi então que começou a surgir no país o conceito de classe trabalhadora e sindicato. No mundo todo, as vertentes socialista, comunista e anarquista disputavam o controle dos movimentos sindicais. No Brasil, ganhou destaque o “anarcossindicalismo” difundido pelos imigrantes europeus. Essa forma de organização se caracteriza pela intervenção direta dos sindicalistas na organização dos trabalhadores em fazendas e fábricas.
Em junho de 1917, funcionários da Crespi (75% deles eram de origem italiana), uma das maiores indústrias têxteis de São Paulo, pediram aumento salarial de 20% e melhores condições de trabalho. Quando o pedido foi negado, iniciaram uma greve. Dias depois, funcionários da Antártica também pararam. Paralisações começaram então a se espalhar para outras fábricas da cidade de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. “Nos conflitos que opõem o trabalhador a seu empregador, a greve é sempre o último recurso. Busca-se primeiro uma negociação por meio dos sindicatos. Caso ela não ocorra, a greve é a principal arma do trabalhador. Pois individualmente ele é facilmente derrotado, mas sua força está na união”, explica Júlio Turra, diretor executivo da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Nacional.
No dia 9 de julho, a repressão policial sobre trabalhadores da Fábrica Mariângela, no Brás, resultou na morte do sapateiro espanhol José Martinez de 21 anos, membro da Federação Operária de São Paulo (FOSP), da Confederação Operária Brasileira (COB) e militante anarquista. Foi, então, que começou a greve geral. O cortejo fúnebre de José, no dia 11, foi seguido pelas ruas de São Paulo por mais de 10 mil pessoas até o cemitério do Araçá, onde militantes fizeram vários discursos pedindo a libertação de grevistas presos, garantia de não punição a quem participasse do movimento, reajuste salarial, jornada de oito horas diárias e fim de exploração de mão de obra de menores e de mulheres no período noturno.
No dia seguinte, a cidade de São Paulo parou. Indústrias, padeiros, distribuidores de gás e luz, leiteiros, serviços de transporte, comércio e até mesmo os serviços de lazer não funcionaram. Nesse contexto, outros conflitos, prisões e mortes ocorreram.
O Comitê de Defesa Proletária (uma espécie de central de trabalhadores da época), com a intermediação de jornalistas que realizavam publicações para espalhar os ideais anarquistas pelo país, se reuniu com donos das fábricas e com o governador de São Paulo, Altino Arantes, para negociar um acordo para o fim da greve. Eles conseguiram um aumento geral de 20%, o direito à associação, libertação dos presos e a não demissão dos grevistas.
PLANO DE AULA Movimento sindical no período da redemocratização
Os acordos feitos para o fim da greve de 1917 não foram totalmente cumpridos, uma vez que muitos militantes foram presos e expulsos do Brasil. Entretanto, a greve iniciou um pensamento de organização dos trabalhadores enquanto classe. O surgimento de sindicatos, federações e confederações sindicais impulsionaram conquistas políticas, sociais e trabalhistas posteriores, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943, no governo de Getúlio Vargas, e a redemocratização do país após a Ditadura Militar.