metropoles.com

Condomínios fechados podem aumentar a insegurança das ruas ao redor

Esse tipo de empreendimento tem impacto direto no desenvolvimento das cidades brasileiras e pode até piorar o problema da insegurança

Autor Matheus Seco

atualizado

Compartilhar notícia

Felipe Menezes/Metrópoles
Brasília (DF), 10/04/2017 Cenas da CidadeLocal: Águas Claras Foto: Felipe Menezes/Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 10/04/2017 Cenas da CidadeLocal: Águas Claras Foto: Felipe Menezes/Metrópoles - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

É inegável que a violência urbana tem crescido em várias cidades brasileiras. E esse dado, sem dúvida, tem relação direta com o aumento de grades e cercas ao redor de casas, edifícios e bairros inteiros. A sensação de insegurança talvez seja a principal causa do isolamento social e isso se reflete no crescente desejo de se viver em bairros fechados e, teoricamente, seguros.

A discussão em torno da legislação que permite ou proíbe a criação de condomínios é complexa. Afinal, esse tipo de empreendimento tem impacto direto no desenvolvimento das cidades brasileiras. Esse tipo de solução pode até piorar o problema da insegurança urbana.

Um exemplo disso é a Estrada do Sol, uma rua de mão dupla que fica a poucos quilômetros de distância do Eixo Monumental de Brasília. A via possui aproximadamente oito quilômetros de comprimento e dá acesso a diversos condomínios fechados. O que mais chama atenção na pista é o fato de ela ser ladeada por quilômetros de muros cegos. Não há janelas, portas ou comércios voltados para a rua.

Esse modelo de urbanismo está se tornando comum em grande parte dos condomínios fechados do Distrito Federal. Mas o novo Plano Diretor de São Paulo desencoraja esse tipo de construção. Pois ela está ligada diretamente à ausência de vitalidade nas ruas ao seu redor, gerando insegurança em áreas próximas a esses bairros residenciais e para a cidade como um todo.

O documento paulista prevê uma “Fachada Ativa”, para evitar precisamente o que acontece nessas áreas. O Plano avalia que uma via com acesso público e usos diversificados pode gerar mais segurança para quem passa por ali. Movimentação de carros e gente promove o contato visual das casas, edifícios e comércios com o espaço público, estimulando a circulação de pessoas durante vários horários do dia e criando o que alguns especialistas chamam de “vigilância natural”.

Locais que aparentam ser seguros também incentivam a circulação de pessoas, o que por sua vez reforça a sensação de proteção, criando um círculo virtuoso.

Seria justificável que a eventual segurança, tão desejada pelos moradores de condomínios fechados, gere mais violência para o resto da cidade? Por que não pensar no correto desenho urbano como parte da solução para se ter uma vida urbana mais democrática e segura?

Paulo Mendes da Rocha dizia que as cidades nascem da vontade dos homens de estarem juntos. Portanto é importante lembrar da ideia de sua construção como um lugar de intercâmbio. O “laboratório do homem”, segundo o arquiteto, corre risco de ser destruído pela proliferação de bairros privados e condomínios fechados.

Acima de tudo a construção da cidade pode ser vista, não só como uma consequência inevitável da violência urbana gerada por uma sociedade desigual e injusta, mas como uma ferramenta possível e poderosa para a transformação dessa mesma sociedade para melhor.

*Matheus Seco é arquiteto, sócio do escritório BLOCO Arquitetos e ex-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Iab-DF (2014-2016)

 

Compartilhar notícia

Todos os direitos reservados

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?