Gays maduros e o medo de relacionamentos

Em setembro, completo 41 anos.

Desde o ano passado, meus questionamentos têm mudado e tenho refletido muito a respeito da solidão, velhice, relacionamentos. Sobretudo, a respeito do medo que temos de nos relacionar com o passar dos anos.

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Como sabemos, à medida que envelhecemos, o sentido de solidão vai se tornando mais presente principalmente no contexto da vida gay, já que não há grandes expectativas para casamentos e filhos (esses assuntos são muito atuais e o gay brasileiro em geral não se sente preparado). Nós, homossexuais, temos uma tarefa muito árdua no decorrer da nossa vida: descobrir como ser, estar e sobreviver homossexualmente na terceira idade sem ter um companheiro (a).

Não acredito que a minha felicidade esteja atrelada ao outro. Quem me conhece, sabe o quanto sou independente e esse e um dos motivos de estar solteiro, por opção, há tanto tempo. Porem, quem não quer um cobertor de orelha pro fim da vida?

Sinto que, cada vez mais, fica difícil me envolver com alguém.  Sigo há uma década solteiro, desde o último relacionamento estável, por opção. Porque só encontro gente medrosa, doida ou incapaz de ser feliz.

Não me vejo mais em uma relação neurótica e nem pretendo repetir os mesmos padrões já vividos. Relacionamentos são construídos um a um, não existe um manual de instruções.

Quero a sorte de um amor tranquilo, como diz a musica, um companheiro pra curtir a vida de forma leve, sem neuras.

Não dá pra tolerar alguém que já viveu uma vida inteira, com questionamentos dignos de adolescentes. Li em algum lugar que homens não amadurecem emocionalmente e tenho que confessar que acredito nisso.

Funciona assim: num belo dia, você conhece alguém, se aproximam e têm um lance… Até que chega aquela hora. Não estou falando de sexo – até porque cada um tem seu tempo pra isso, estou falando de algo bem mais apavorante: a hora de ficar sério, comprometedor, de engatar ou não, de apostar suas fichas num bilhete só.

Após levar tanta paulada da vida, seu coração fica duro e você mais descrente da possibilidade de viver algo bacana. Por mais que consiga vislumbrar a possibilidade de um lance legal com alguém, vai sempre entrar no modo auto sabotagem, tentar fazer de tudo pra justificar a sua falta de coragem de ser feliz. Acontece comigo, acontece com os caras com quem me relaciono e provavelmente, acontece com você.

Ontem à noite eu assisti a um filme argentino chamado Medianeiras- Buenos Aires da era digital, que conta a historia de um homem e uma mulher que vivem trancados em seus apartamentos, cheios de fobias, medos e tem muita dificuldade em se relacionar com as pessoas.  Estamos cada vez mais isolados em nosso mundinho virtual, vivendo na velocidade da internet e perdendo o tato pra lidar com o outro. E isso nos deixa cada vez mais medrosos.

Arriscar na própria transformação é a única maneira de realmente tentar viver uma relação de amor. Quando mergulhamos nas nossas fraquezas, sempre acabamos por descobrir a intransigência, o orgulho, a prepotência e o próprio desgaste pessoal, além da falta de amor próprio e a desonestidade consigo mesmo.

Não tenho respostas para estas questões, talvez ninguém as tenha. O que eu tenho tentado fazer para não cair nesse abismo é viver de peito aberto pra não me privar de viver coisas bacanas.  Nunca fui covarde, e não vou deixar o medo me engolir.

E você? Tem medo de ficar só?