Política Lava-Jato

Odebrecht mascarou doação da CSN à campanha de Skaf

Uso de empresas amigas era comum para se manter oculto, contou delator

Campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo, na época pelo PSB, teria recebido R$ 2,5 milhões da Odebrecht em favor da CSN
Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo, na época pelo PSB, teria recebido R$ 2,5 milhões da Odebrecht em favor da CSN Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

BRASÍLIA — No sistema de utilização de empresas amigas para ocultar doações a políticos, a Odebrecht não cumpriu apenas o papel de doador oculto, mas também o de “laranja”. O expediente usado para mascarar doações oficiais era algo normal, segundo Marcelo Odebrecht. Desde o ano passado, já se sabia que o grupo Petrópolis, do empresário Walter Faria, foi usado em doações oficiais a pedido da empreiteira. O que a delação revela agora é que a empreiteira também foi procurada por empresários para assumir compromissos com políticos no lugar de empresas interessadas em se manter ocultas.

Essas negociações aconteciam em jantares oferecidos pelos empresários a colegas. Em um desses encontros, segundo Marcelo, Benjamin Steinbruch, dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), pediu ao então presidente da Odebrecht que realizasse doações para candidatos do PSB e do PT na campanha de 2010.

— Não era incomum um empresário de algum estado ligar pra mim e pedir assim: “Marcelo vê como é que vocês apoiam esse candidato, esse deputado, esse senador”. Não era incomum empresários promoverem jantar e pedir apoio, era uma maneira de o cara jogar pra outros os problemas que tinha — contou.

Quando o acerto era no âmbito estadual, o pedido era “pequeno”, de R$20 a R$ 50 mil. Mas no caso da CSN, a gigante do aço, a troca foi em patamares bem mais altos. Só à candidatura de Paulo Skaf ao governo de São Paulo, na época pelo PSB, a Odebrecht doou em favor da CSN R$ 2,5 milhões. O negócio foi resolvido por meio de abatimentos em um contrato que as duas empresas tinham em torno de uma indústria de aço. Essa operação ganhou até um apelido: “Rolamento aço”. Já a doação para o PT, Marcelo não especifica, mas sinaliza que foi incorporada à planilha que a Odebrecht mantinha com o partido, que tinha como comandante o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

— Nesse caso específico, o Benjamim tinha assumido o compromisso de doação ao PT e ao PSB. No caso do PSB, era à candidatura ao governo de São Paulo (em 2010), que era o Paulo (Skaf), e no caso do PT o compromisso dele, o que ele tinha me dito, era que ele tinha feito como Palocci. E por algum motivo, ele não queria aparecer, e ele pediu: “Marcelo, dá pra você fazer essa doação por mim”? Como na época eu tinha um contrato com ele, que era a construção de uma indústria de aço, eu disse; “Tudo bem, eu faço e você me reembolsa no contrato” — narrou Marcelo aos procuradores.

Procurado por meio de sua assessoria, Benjamin Steinbruch não se manifestou sobre o conteúdo da delação de Marcelo Odebrecht. Já Walter Faria informou que “todas as doações feitas pelo Grupo Petrópolis seguiram estritamente a legislação eleitoral e estão devidamente registradas”.

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