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Suspeito de matar ciclista no Rio largou escola e foi abandonado pelos pais

Com 16 anos, suspeito de matar o ciclista Jaime Gold acumula 15 passagens pela polícia. Segundo delegado, o rapaz confessou que participava de roubos a ciclistas na Lagoa - Fábio Motta/Estadão Conteúdo
Com 16 anos, suspeito de matar o ciclista Jaime Gold acumula 15 passagens pela polícia. Segundo delegado, o rapaz confessou que participava de roubos a ciclistas na Lagoa Imagem: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Do UOL, no Rio

22/05/2015 10h11

O adolescente de 16 anos apreendido na quinta-feira (21) sob suspeita de ter participado da ação criminosa que matou o médico e ciclista Jaime Gold, 56, durante um assalto na Lagoa Rodrigo de Freitas (RJ), largou a escola há dois anos e foi abandonado pelos pais, segundo reportagem do jornal "Extra" publicada nesta sexta-feira (22). O menor foi apreendido em sua casa, localizada na favela de Manguinhos, na zona norte da cidade.

Ainda de acordo com o jornal, desde que foi apreendido pela primeira vez, em 2010, ele teve 15 anotações criminais e passou nove vezes pelo Degase (Departamento de Ações Socioeducativas), órgão que executa medidas judiciais aplicadas a adolescentes que cometem crimes --o equivalente à Fundação Casa, em São Paulo.

A última vez que isso aconteceu foi em janeiro de 2015, quando o rapaz foi apreendido por furto de bicicletas no Jardim Botânico, na zona sul.

Pouco depois, ele foi transferido para uma unidade com menores em semiliberdade, de onde acabou fugindo. Ao longo de sua trajetória no Degase, as medidas socioeducativas aplicadas a ele sempre foram advertências, liberdade assistida ou semiliberdade. O adolescente nunca ficou em regime fechado.

Em depoimento à DH (Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio), o jovem negou ter participado do assalto a Gold, que foi abordado por dois criminosos --os agentes da delegacia estão à procura do segundo suspeito.

Para o delegado Rivaldo Barbosa, não há dúvida de que o adolescente é um dos autores do crime. "Foi uma forma brutal como o médico foi atingido. Ele recebeu no mínimo quatro golpes. A ação foi sorrateira, por trás, com traição", disse. Segundo o policial, o menor confessou ter praticado outros roubos na Lagoa, principalmente contra ciclistas --essa é a 16ª vez que ele passa por uma delegacia.

A reportagem do "Extra" informa que, por outras três vezes, o suspeito foi ao distrito policial na condição de vítima. O adolescente perambulava à noite pelas ruas do Leblon, bairro nobre da zona sul do Rio, e esteve na delegacia local (14ª DP) duas vezes por abandono material, e uma vez por abandono de incapaz, em 2011.

Seus pais chegaram a ser indiciados pelo crime de abandono de incapaz. Na noite do dia 25 de outubro de 2010, ainda de acordo com o jornal, policiais relataram que o rapaz estava na rua "passando fome" e "sem dinheiro para voltar para casa".

A mãe do adolescente, de 55 anos, afirmou à polícia, em 2011, que já tinha conhecimento da conduta criminosa do filho. Segundo ela, o jovem praticava roubos e furtos desde 2010 e também era usuário de maconha. Na versão da mãe, o menor foi completamente negligenciado pelo pai, tanto em relação à criação como no sustento da casa. Em uma de suas passagens pela polícia, o rapaz disse ter visto o pai apenas duas vezes.

A Secretaria Municipal de Educação confirmou que o rapaz abandonou a escola no início de 2013, no sexto ano do ensino fundamental, após estudar na rede municipal por nove anos --entre 2003 e 2012.

Paes não vê "problema social"

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), foi duro nesta quinta-feira (21) ao falar sobre os suspeitos da morte de Gold. Para ele, caso seja confirmada a participação de menores no crime, eles precisam ser tratados como "delinquentes". Paes foi mais longe e afirmou que "isso não é um problema social".

"O que a gente vê nesses casos é uma pessoa que sai armada de uma faca, agride, a ponto de levar essa pessoa à morte. Esse não é um criminoso que tem que ser tratado. É um delinquente que tem que ser tratado com a dureza da força policial. Não tem jeito. Isso não é um problema social", sustentou o prefeito.

Bicicletas de R$ 30 mil

De acordo com o delegado Rivaldo Barbosa, as investigações apontam que há na região de Manguinhos, favela onde o adolescente mora, um centro de receptação de bicicletas roubadas em bairros da zona sul do Rio.

Agentes da DH identificaram e apreenderam nove bicicletas próximas à casa do suspeito, com indícios de que tenham sido roubadas --não se sabe ainda por quem. A bicicleta do médico Jaime Gold não foi encontrada.

"Existe bicicleta ali que custa R$ 30 mil, ao que parece", informou o delegado. No corredor em frente à casa do adolescente em Manguinhos, foram encontradas quatro facas, incluindo um facão, e duas tesouras. Ainda não se sabe se uma delas foi a arma utilizada no crime da última terça-feira (19).