Cidade sem rock: onde devemos semear a paz e o amor

Créditos: Reprodução

O Rock in Rio 2017 é sucesso de público e organização. Roberto Medina, mais uma vez, mostra que, além de visionário, é um grande empresário. Produzir um evento de música com a duração atual do RiR, criar logística para acomodar, alimentar e entreter mais de 100 mil espectadores por dia num espaço de 300 mil metros quadrados parece, para a maioria dos mortais, coisa de lunático – e é.

Nessa primeira semana de evento, ouvi o questionamento sobre o quanto se arrecada a cada dia de evento. A mim, não interessa saber quanto o patrono do Rock in Rio embolsa. O que me pergunto é o quanto de social se podia fazer com a marca do festival – afinal, essa é a minha origem, pois sou um “fazedor” de favela.

Se o pouco que conseguimos fazer no início da década de 90 repercute ainda hoje entre os “fazedores” da cidade, imaginem quantas instituições poderiam ser beneficiadas por uma Fundação Rock in Rio. Além da Amazônia, poderíamos salvar o pouco que resta desta cidade tão sitiada pela violência.

São vários os exemplos. Quem vai ao Rock in Rio pela Linha Amarela avista obrigatoriamente o Complexo do Alemão. Em uma das 15 favelas que compõem o Complexo, há um casal que precisa ser acompanhado por cada um de nós que acredita em um mundo melhor: Cléber Araújo, colunista semanal do portal da Agência de Notícias da Favela, e Mariluce Souza, artista plástica. Eles fazem a diferença. Mariluce coordena um projeto de artes plásticas que atende a 180 crianças e adolescentes moradoras do CPX. O nome do projeto é Favela Art. Cléber Araújo abandonou o emprego para ajudar a esposa a colorir a realidade cinza das favelas. E eles têm feito muito.

 

Cleber Araújo e Mariluce Mariá (Créditos: Reprodução Internet)
Cleber Araújo e Mariluce Mariá (Créditos: Reprodução Internet)

 

Quem foi ao Rock in Rio no dia 18 e assistiu no Palco Sunset a apresentação da homenagem aos 100 anos de samba pôde ver, enquanto os baluartes do samba cantavam “Aquarela Brasileira”, os alunos do Favela Art que pintavam um mapa do Brasil colorido – tão colorido quanto as cores pintadas nos muros de diversas favelas do Complexo.

Ontem, ao encontrar Cléber Araújo e Mariluce Souza, soube por eles que uma empresa parceira do Palco Sunset doou seis ingressos ao casal e às crianças participantes do vídeo, mas, por conta de custo, logística e questões pessoais, eles decidiram devolver os ingressos e ficaram só com dois, um dele e outro dela. Quem devolveria ingressos ao precisar de recursos financeiros para manter o dia a dia? Eles, sim.

Perguntei à Mariluce qual era o valor de custo mensal do Favela Art e quantos alunos o projeto atendia por mês. A resposta dela: R$ 2.000 para 180 alunos. Traduzindo em economês, significa R$ 11,11 aluno/mês. Sabe o que isso significa? Cada chope que se consome no Rock in Rio poderia evitar que um jovem enxergasse o pincel e não a pistola como forma de vida.

Faça a diferença e ajude a salvar a Amazônia, sim. Mas não esqueça de semear amor e paz na cidade sem rock.