O Dossiê dos 8

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"Você enlouqueceu?" -, gritou o médico invadindo no quarto de Inês. Ela saltou para trás com o susto causado pela entrada violenta do ser mumificado que a acuou na parede. "Como pode soltar aquelas pessoas? Elas eram a chance de provarmos o que aconteceu aqui nessa cidade!" -, gritou.

"Sua voz!" -, sentenciou: "Eu conheço essa voz".

Cohen tentou desnorteá-la: "Não, não me conhece. Estou aqui em uma missão e você estragou essa missão" -, tentou soar agressivo.

"Cohen, é você!" -, Inês abriu um sorriso espontâneo e gratificante. "Eu sei que é você, pode admitir".

O quarto ficou em silêncio. Cohen tinha vontade de se revelar, mas, tinha medo que Inês desse uma nota fora. Inês se aproximou e olhou em seus olhos.

"Eu ei que é você. Só agora me toquei desses olhos firmes e seguros de si!" -, abraçou Cohen como quem abraça um anjo protetor. Nunca alguém havia reparado em seus olhos como Inês. Para ele era uma novidade. Para ela, o ufólogo não era remédio, mas era o alívio para as suas dores na alma. A presença dele ali atestava a sua sanidade mental e garantia a paz para os próximos passos.

Cohen demorou a retribuir o abraço e mesmo assim o fez sem ênfase. Inês beijou o seu rosto por cima das ataduras. Foi um beijo espontâneo que tirou ainda mais a intenção de seguir mentindo como planejara Cohen.

"É um alívio ter você por perto! Nunca, em toda a minha vida, me senti protegida diante de um homem como agora" -, Inês abriu o seu coração e revelou uma ferida fragilizada; não era pequena. Estava deixando fluir tudo o que tinha dentro de si para Cohen.

"Sinto muito"-, pigarreou Cohen tentando esconder a culpa por aquilo que ia fazer: "Não sei quem é esse homem que você fala e nunca lhe vi na vida. A senhora está enganada" -, disse desfazendo o abraço.

Inês se afastou envergonhada. Estava decepcionada!

A negação daquele homem atestou o seu estado de confusão mental. Até a voz daquele homem agora, parecia diferente. Talvez fosse autoindução; um daqueles casos em que mente vê o que escolhe ver. Um caso de negação psicológica para não enfrentar a dor como na síndrome de escotoma.

"Perdoe-me, eu fiz uma enorme confusão" -, abaixou a cabeça com os olhos tentando segurar as lágrimas. Decepção, tristeza e medo. Estava perdida. Mas, não como quem recupera o caminho ao achar o mapa. Mas, sim, como quem está sozinha no fundo de uma cisterna seca e abandonada.

Respirou fundo e recobrou a situação: "Porque vinde a mim saber dos pacientes que fugiram?".

"Estou numa missão secreta a favor da ufologia e sei que posso contar com a senhora e sei que não vai contar nada a ninguém. Estou desfigurado e fica difícil acreditar em mim, infelizmente! Sofri um acidente na praça, por isso estava os acompanhando de longe. Não é saudável me expor com o rosto machucado para pessoas que estão sinalizadas com transtornos mentais" -, explicou. "Pretendia conversar com eles em breve para atestar a sanidade mental dos mesmos se fosse o caso, mas a senhora interrompeu o processo ao ajuda-los fugir" -, mentiu Cohen.

Inês olhou naqueles olhos mais uma vez.

"Impossível" -, pensou em voz alta.

"O que?" -, disse ele trivialmente.

"A semelhança é muito grande" -, disse Inês se direcionando à escrivaninha de seu quarto. Abriu a gaveta e retirou um envelope e fitas. "Tudo o que precisa saber sobre eles está aqui" -, disse para si mesma segurando o material na direção de seu coração.

Entregou tudo a ele, olhando nos olhos como quem cobra confiança: "Tudo o que precisa está aqui. Deixe-os em paz. Eles não são loucos, merecem viver livres" -, disse Inês com um pesar de quem desejava ter a mesma saída.

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