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    Marcus Melo

    Os eleitores punirão os parlamentares envolvidos em corrupção?

    18/12/2017 02h00

    Diego Herculano 26.set.2016/Folhapress
    Informática 07.08.2017 - Urna eletrônica utilizada em votações no Brasil. (Foto: Diego Herculano 26.09.2016/Folhapress)
    Urna eletrônica utilizada em votações no Brasil

    Os estudos sobre o impacto de escândalos de corrupção sobre a reeleição de deputados federais nas eleições anteriores a 2014 podem ser informativos sobre o que vai acontecer em 2018.

    Houve dois escândalos de maior monta no período: o mensalão (2005) e o escândalo dos sanguessugas (2006). No primeiro caso, 9 parlamentares foram acusados. No segundo, o número é bem maior: 40. Apenas 1 parlamentar, Pedro Henry (PP-MT), esteve envolvido em ambos. Dos 50 candidatos à reeleição do grupo de 69 envolvidos, apenas 9 foram eleitos (18%) –percentagem muito inferior à taxa de reeleição média no país (70%). 19 parlamentares não se recandidataram –o que sugere um processo de auto seleção, e o efeito é assim ainda maior.

    Os dados sugerem à primeira vista um fortíssimo impacto de envolvimento em escândalo de corrupção e punição eleitoral. O PTB não reelegeu nenhum dos 12 membros de sua bancada envolvidos no escândalo. O PP não reelegeu 7 dos 9 envolvidos, e o PL não reelegeu 8 dos 10 envolvidos. No PT, 4 dos 7 implicados não lograram reeleger-se.

    Com os colegas Ivan Jucá e Lúcio Rennó, estimamos com um modelo estatístico o impacto do escândalo sobre a reeleição para os pleitos de 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010.

    Nessa estimativa levamos em conta os fatores que têm impacto sobre a reeleição: os gastos de campanha; o valor e o número das emendas orçamentárias de autoria dos parlamentares executadas durante o mandato; indicadores de desempenho legislativo (iniciativa de leis, etc); o capital político do parlamentar (número de mandatos e votação anterior); congruência entre partido ou coalizão do parlamentar e do presidente, etc. A estimação
    leva em conta o possível efeito (endógeno) da probabilidade de eleição sobre alguns desses fatores.

    A principal conclusão é que o envolvimento em escândalo reduz a probabilidade de reeleição, na média, em 18%. Mais importante: esse efeito se anula quando o gasto do incumbente se aproxima de R$ 2 milhões. Valor só atingido por 10% das candidaturas. Em outras palavras, os custos reputacionais podem ser mitigados por gasto expressivo de campanha.

    A análise do gasto de campanha antes e depois do escândalo mostra que o envolvimento em escândalo leva ao um aumento do gasto para reduzir os custos reputacionais.

    Essas estimativas são para o período pré-tsunami da Lava Jato. A punição em 2018 poderá ser potencialmente muito maior. Sobretudo nas eleições proporcionais na qual a escolha não é binária e o voto cínico ("são todos corruptos") tende a ter menos força. Não é à toa que os parlamentares criaram um fundo de campanha de R$ 1,7 bilhão.

    marcus andré melo

    Doutor pela Sussex University, é professor titular de ciência política da UFPE. Escreve às segundas.

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