Boris Schnaiderman – In Memoriam

Os tons verbais carregados de subjetivação de Górki, a intensidade dramática e ficcional das ideias de Dostoiévski, a simplicidade impressionista de Tchékhov, os contos de Bábel, o pensamento de Iúri Lotman, entre outros (Tolstói, Guenádi Aigui, Maiakóvski…), passaram a ter uma alma mais vernacular mercê do talento e do esforço de Boris Schnaiderman, falecido nesta quarta-feira (18/05), em São Paulo, um dia após completar 99 anos.

 

 

Nascido em Úman, na Ucrânia, em 1917, a família mudou-se para Odessa quando ele tinha um ano de idade e ali Boris passou parte da infância, vindo para o Brasil em 1925. Formou-se na Escola Nacional de Agronomia do Rio de Janeiro, naturalizou-se no início dos anos 1940 e se alistou para lutar na Segunda Guerra Mundial como sargento da FEB em 1944, mesmo ano em que buscava publicar sua primeira tradução de Os Irmãos Karamázov. “Agrônomo do asfalto”, sua verdadeira paixão era cada vez mais a literatura. Autodidata, enfrentou o desafio de criar o Curso de Língua e Literatura Russa da Universidade de São Paulo, em 1960, ali permanecendo até sua aposentadoria, em 1979, e pela qual recebeu em 2001 o título de Professor Emérito. Em 2003, foi agraciado com o Prêmio de Tradução da Academia Brasileira de Letras e, em 2007, recebeu do governo da Rússia a medalha Púschkin, dedicada aos que mais contribuem na difusão da cultura russa no mundo. Suas traduções de contos e romances russos são publicados pela Editora 34 e as de poesia, em conjunto com os irmãos Campos, e os ensaios, pela Perspectiva (Semiótica Russa, A Poética de Maikóvski, entre outros), com a qual publicou ainda Projeções: Rússia, Brasil, Itália, Dostoiévski: Prosa Poesia e Tradução, Ato Desmedido e lançou recentemente seu último livro, Caderno Italiano.

 

Para a Editora Perspectiva, a perda é pessoal: a de alguém cuja presença em pensamento e conversações era constante, mesmo quando a física não era possível. Alguém a quem recorreríamos ao enfrentar as agruras de traduzir algum termo russo ou explicar alguma característica cultural do país num contato direto e fácil, corriqueiro, como é comum entre amigos. Perdemos um amigo que nos acompanhou ao longo da trajetória desta casa. Ao partir, Boris Schnaiderman, que com seu trabalho e sua luta enriqueceu a cultura brasileira, nos deixa a todos um pouco mais pobres, pois com ele se vai uma parte de nós.

 

A sua família, nossos sentimentos.






 

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